Friday, January 3, 2014

CRONICA DE OPINIÃO TRANSMITIDA HOJE NA RÁDIO DIANA/FM

                              Ser ou não ser político

Sexta, 03 Janeiro 2014 10:28
Inicio este ano de 2014 com uma crónica que tem um cunho pessoal muito concreto. Vai haver Congresso do CDS-PP e vários têm sido os meus amigos me vêm pedindo para voltar a intervir activamente no partido e, através desde, na vida política portuguesa.
Como os ouvintes da Diana FM sabem, tenho estado afastado da vida política activa desde há cerca de sete anos. A todos os que me têm sugerido para voltar tenho dito que não, com base em vários argumentos: uns de natureza puramente interna, outros de natureza externa. Vou aqui abordar os argumentos de natureza externa, à luz do que pensam os opinion makers portugueses, designadamente políticos e comentadores no activo, sobre pessoas que se encontram nas mesmas circuntâncias que eu.
Tenho 48 anos, sou licenciado em Ciência Política, no ramo de Instituições Políticas e Administração Pública. Por onde? Exactamente: pela Universidade Lusófona. Embora a minha licenciatura seja pré-Bolonha, é claro que os ouvintes já perceberam a questão. Ser-se licenciado pela Universidade Lusófona e querer fazer-se política em Portugal é hoje muito difícil.
Depois, sou quase licenciado em Economia. Neste caso, pelo Instituto Superior de Economia e Gestão, ISEG, da Universidade de Lisboa, que é pública. Mas ser-se quase licenciado no que quer que seja, também não serve para se ser político em Portugal. Resolvi, entretanto, concluir esta minha segunda licenciatura. Faltam-me, neste preciso momento, três cadeiras para a terminar.
Sou casado e sou casado com uma mulher, o que não está na moda! Acresce que tenho quatro filhos o que é, evidentemente, uma irresponsabilidade, embora me permita conhecer melhor o sistema de ensino português, já que o mais novo de 3 anos está no Jardim Infantil, o mais velho está no 2º ano de Biotecnologia no Técnico, e os dois do meio, a irmã, de 16 anos, está no secundário e o irmão, de 7 anos, está no básico. Mas ter 4 filhos hoje em dia é, diz toda a gente, uma irreponsabilidade!
Além disso, fui emigrante. Durante onze anos. De luxo, mas emigrante. Trabalhei durante este tempo no Parlamento Europeu em Estrasburgo e Bruxelas, onde vivi. Ser-se emigrante não é mau. Mas no meu caso, porque fui emigrante de luxo, fiquei com a parte má da emigração, apesar de ter escolhido regressar a Portugal e de, quando escolhi regressar a Portugal, ter escolhido regressar ao meu partido. Mas, como é sabido, ter-se sido emigrante e querer fazer-se política em Portugal, não condiz. O antigo Ministro Álvaro Santos Pereira, que o diga!
Por outro lado, sou retornado. Ser-se retornado, no meu caso de Angola, mas independentemente da ex-colónia que for, também não é mau. Mas em Portugal, se um retornado quiser ser candidato a deputado ou candidato a uma qualquer autarquia, em posição de liderança, é imediantamente classificado de páraquedista. O que também não facilita.
Por último, fui Presidente da Juventude Centrista, a organização partidária de juventude do CDS-PP. Como todos os comentadores sempre que podem referem, uma organização partidária de juventude é a uma escola de crime. Ter-se presidido a uma, é ter-se sido o maior dos criminosos. É claro que com isto só querem dizer que ali se aprendem todos os vícios político-partidários que há para aprender e que é por isso que a política está no estado em que está. Mas se há, de facto, casos assim, posso, no entanto, testemunhar que a generalidade dos militantes de uma organização partidária de juventude é gente boa, mesmo muito boa, e que hoje, como pai, prefiro que, se eles o quiserem, os meus filhos frequentem uma organização partidária de juventude do que ocupem o tempo que têm livre noutras actividades problemáticas. De resto, sempre olhei para a Juventude Centrista como uma escola de formação cívica e política.
Eis por que, apenas à luz dos fazedores de opinião em Portugal, sem entrar, portanto, nas questões puramente estratégicas e/ou internas do meu partido, é difícil para pessoas que estão nas circunsctâncias em que estou, entrarem ou regressarem à vida política activa. E se há argumentos inultrapassáveis, como, por exemplo, o de ter sido Presidente da Juventude Centrista, que só seria ultrapassável se esses fazedores de opinião mudassem de opinião ou se a opinião dominante passasse a ser produzida por outros, há, no entanto, outros argumentos cuja relevância depende exclusivamente de mim.
Neste início de 2014, ficam aqui registadas, numa crónica eminentemente pessoal, as condições em que me encontro à entrada do 25º Congresso do CDS-PP, que se realizará no fim-de-semana de 11 e 12 de Janeiro próximo, e em que participarei.
Cabanas de Tavira, 2 de Janeiro de 2014
Martim Borges de Freitas

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